2  Teoria Política e Ciência Política

2.1 Anotações de aula

2.1.1 Sartori (1974)

A Itália pós-guerra foi um prato cheio para um campo que estava se afirmando como ciência. É mais ou menos nesse contexto que Sartori define o que é uma “ciência” política, capaz de produzir um conhecimento científico e verificável ligado ao fenômeno da política. A Teoria Política é, para ele, o discurso pré-científico sobre a política, mas que tem um grau de racionalidade – não necessariamente ciência.

O que era chamado de Ciência Política antes disso era essencialmente derivado do Direito. Na Itália, isso é basicamente Bobbio.

Sartori tenta fazer algumas distinções importantes. Primeiro, uma distinção entre Filosofia Política e Ciência Política. Para ele, Filosofia Política é basicamente um discurso evaluativo (sobre variação de valores) e normativo (a normatividade que esses valores implicam). Um discurso sobre a fundamentação normativa de valores. A Ciência, por outro lado, é descritivo e não evaluativo, com a ambição de produzir explicações causais sobre o fenômeno político. O conheciment que se propõe cientifico não pode ser evaluativo – o esforço de produzir uma explicação não pode se confundir com a avaliação das consequências dessa explicação (ou seja, a ciência não pode ser normativa).

A grande questão é que o desafio do Sartori é pensar, de maneira positivista, como é possível produzir conhecimento científico (pensando em uma visão particular de conhecimento científico) sobre o fenômeno político. O que parece que ele não alcança é que a explicação, interpretação de fenômenos políticos por excelência não são observados de modo neutro, porque eles não são dados objetivos da realidade como fenômenos naturais.

O que o Sartori chama de teoria é essa generalização de dados observáveis. Por que você cria a “Lei de Ferro das Oligarquias”? Porque você vê que organizações produzem elites. Outra teoria potencialmente generalizável é a teoria da ação coletiva – em particular, a ideia de que os custos da ação coletiva não são divididos igualmente (o free rider, carona). O cara se beneficia, mas não entra na divisão dos custos.

A Teoria sobre a qual o Sartori fala é (a que importa para a sua Ciência Política) é a positiva, que é a que produz generalizações a partir de dados observáveis. Mas a Teoria pode ser mais do que isso?

2.1.2 Warren (1989)

Não é que você vá levar seus valores junto com você; antes, o fenômeno político exige interpretação. Supor a objetividade de certos fenômenos políticos é apenas isso: uma suposição (Warren, 1989). Não é uma questão dos valores do próprio pesquisador, mas sim que o fenômeno político é um fenômeno que exige interpretação que, no fim das contas, exige uma interpretação valorativa (Warren, 1989). Há uma mudança nas motivações que fazem com que os indivíduos se comportem de maneira \(x\) ao invés de \(y\).

Então, mesmo quando você faz um survey e questiona a preferência eleitoral do eleitor, esse índice é fruto de um processo social complexo que você não consegue observar como um dado objetivo. A capacidade de generalização dessa teoria positiva é, frequentemente, limitada. O grau de explicação é limitado porque pode haver mudanças no mundo social que não são capturadas objetivamente. A lei da gravidade não é uma categoria disputada; raça é – ela não existe no mundo social por si só.

A observação dos fenômenos políticos não é imediata. Ela acontece por intermediação de informações que, no fim das contas, são proxies para o fenômeno que você quer observar. Por exemplo, observar o conceito de voto econômico não é algo direto. Beleza, a alta do custo de vida é um fator que pode influenciar o voto econômico. Mas a percepção do custo de vida é mediada por uma série de fatores que não são diretamente observáveis. A ideia é que o cenário é mais complexo de ser interpretado do que o dado observável. Se o índice muda de um dia pro outro, você não vai entender porque ele mudou se você não aprofunda o estudo de um determinado fenômeno.

O texto do Warren vai defender não só a importância da Teoria, mas vai defender que a Teoria faz certas coisas que não podem ser esgotadas sem ela. O primeiro ponto tem a ver com a construção de sentido: é a teorização que dá sentido à própria pesquisa empírica. Você pode até reformular a teoria a partir da pesquisa empírica, mas a teoria é o que dá sentido à pesquisa empírica. Além disso, assim como em Warren, a teoria é o que permite a generalização de fenômenos observados.

Através do discurso, a teoria produz efeitos no mundo. É claro, não esperamos que todos os liberais de internet tenham lido Hayek de cabo a rabo, mas esse discurso incute uma série de valores que são reproduzidos de uma maneira ou de outra.

2.1.3 Vincent (2004)

Se a gente tem uma teoria que é normativa, ela também dá o caminho para interpretar como os conceitos são disputados ao longo da história – a teoria histórica, conforme Vincent (2004). A abordagem histórica da teoria é a ideia de entender como certos sentidos são construídos e disputados.

  • Teoria normativa (TP1)
  • Teoria histórica (TP1)
  • Teoria empírica (TP2)
  • Teoria crítica