2 Fundamentos da pesquisa quantitativa
2.1 Anotações das leituras
2.1.1 Kellstedt, P. M., & Whitten, G. D. (2018). The fundamentals of political science research. Cambridge University Press., Cap. 1 e 2.
Capítulo 1: O estudo científico da política
Então, o que fazem os cientistas políticos e o que faz deles cientistas? Uma resposta simples para essa questão é que, como outros cientistas, cientistas políticos desenvolvem e testam teorias. Uma teoria é uma tentativa de conjeturar sobre as causas de um fenômeno de interesse. O desenvolvimento de teorias causais sobre o mundo político requer pensar em fenômenos familiares de modo novo. Assim, a construção de uma teoria é em parte arte e em parte ciência.
Então, como cientistas políticos desenvolvem teorias sobre política? Um elemento-chave desse procedimento é como eles organizam seus pensamentos sobre o mundo político em termos de conceitos que cientistas chamam de variáveis e de relações causais entre variáveis. (p. 33)
Uma vez que tenhamos descoberto nosso relacionamento hipotético, podemos coletar dados de casos do mundo real e observar como esses dados refletem nossas expectativas em relação positiva ou negativa. (p. 38)
O ponto essencial é que modelos são simplificações. Se eles são ou não úteis para nós depende do que estamos tentando alcançar com um determinado modelo. Um dos aspectos mais marcantes dos modelos é que eles frequentemente são mais úteis para nós quando são imprecisos do que quando são precisos. O processo de pensar sobre as falhas de um modelo para explicar um ou mais casos pode gerar novas teorias causais. Encontrar imprecisões, frequentemente, nos aponta a direção do progresso teórico frutífero. (p. 41)
Capítulo 2: A arte da construção de teorias
[…] uma boa teoria científica não explica apenas o resultado das eleições presidenciais de 2012, mas das eleições presidenciais americanas em geral. Isto é, em vez de perguntar “Por que Obama venceu Romney em 2012?”, devemos perguntar “O que faz o partido do presidente vencer ou perder uma eleição presidencial nos EUA?” ou “O que faz com que candidatos do Partido Republicano se saiam melhor ou pior que candidatos do Partido Democrata nas eleições presidenciais americanas?”. (p. 56)
As teorias que temos considerado até o momento foram elaboradas após um rigoroso processo de pensamento sobre o fenômeno que queremos explicar e a dedução de possíveis explicações causais. Uma extensão desse tipo de pensamento rigoroso é conhecida por “teoria formal” ou “escolha racional”. Pesquisadores têm utilizado essa abordagem para desenvolver respostas para perguntas de pesquisas sobre como pessoas tomam decisões estratégicas. Colocando de outro modo, se a política é um jogo, como explicamos o modo como as pessoas jogam? (p. 59)
Podemos sumarizar esses pressupostos a respeito do comportamento humano dizendo que teóricos formais assumem que todos os indivíduos são maximizadores racionais de utilidade - que eles tentam maximizar seu próprio interesse. (p. 60)
Usamos as ferramentas da teoria formal para tentar nos colocar na posição de imaginar que estamos no lugar de outra pessoa e pensar sobre as diferentes escolhas que ele ou ela tiveram que fazer. Nas seções seguintes introduziremos as ferramentas básicas para fazer isso utilizando a abordagem de utilidade esperada […]. (p. 60)
A utilidade para uma ação em particular é igual à soma de todos os benefícios menos a soma de todos os custos de uma ação. Sendo \(Y\) uma ação, podemos sumarizar a utilidade como: \[ U_i (Y) = \sum B_i (Y) - \sum C_i (Y) \] Quando escolhe entre um conjunto de ações possíveis, um indivíduo racional escolherá a ação que maximiza sua utilidade. (p. 61)
Outro aspecto potencialmente problemático do pressuposto do ator racional maximizador de utilidade que você tem que considerar é o pressuposto da informação completa. Em outras palavras, e se não soubermos exatamente quais são os custos e benefícios de uma ação específica? […]. Quando relaxamos esse pressuposto, deslocamos nossa discussão da utilidade para a utilidade esperada. (p. 62)
2.2 Anotações de aula
Nas ciências sociais, passamos por uma série de dificuldades na produção de conhecimento científico. Em particular, nosso objeto de estudo é difícil (para não dizer impossível) de ser “isolado”, de maneira que a realização de experimentos é muito mais limitada. Outro desafio diz respeito ao fato de que as pessoas, no senso comum, têm explicações para os fenômenos sociais (sociologia espontânea, como diria Bourdieu).
Nas ciências sociais, nos diferenciamos de várias maneiras. Temos uma definição própria do que é sociedade (ou política); usamos uma linguagem “especial”; e usamos o método científico.
Mas, no fim das contas, o que é método científico? No caso Popperiano, literatura e teoria \(\rightarrow\) hipótese \(\rightarrow\) observação \(\rightarrow\) rejeitar ou falhar em rejeitar a hipótese. Por outro lado, sob esse paradigma de ciência, várias coisas que fazemos nas ciências sociais não são consideradas ciência – em particular, a Antropologia, várias áreas da Sociologia etc2.
2.2.1 Metodologia quantitativa
A pesquisa quantitativa e a qualitativa partem de pressupostos epistemológicos diferentes. A pesquisa quantitativa parte de uma visão mais naturalista (ou positivista3) de que eu consigo extrair um “pedaço” do mundo político e fazer testes, formular hipóteses etc – isto é, existem uma série de componentes objetivos que podem ser extraídos e estudados. Já a pesquisa qualitativa parte de uma perspectiva epistemológica construtivista: o mundo social e político não se desassocia do pesquisador e, portanto, o mundo social é construído a partir da experiência. De certa forma, essas abordagens informam como fazemos pesquisa.
Pesquisa quantitativa e qualitativa alongam um enorme debate sobre a maneira de abordar objetos nas ciências sociais. Mas, no fim das contas, uma resposta para essa discussão é que a integração dos métodos é um bom caminho – por exemplo, a partir da triangulação de evidências.
Através de alguma estratégia de identificação, tentamos, na pesquisa quantitativa, isolar potenciais explicações para um determinado fenômeno. Nesse caso, queremos entender “o efeito de \(x\) sobre \(y\)”. Naturalmente, isso acaba sendo diferente de previsão, que também é um dos objetivos da pesquisa quantitativa, embora seja um objetivo preterido e meio adormecido na ciência social moderna.
2.2.2 Variações de objetivos
- Descrição
- Explicação e causalidade
- Predição
2.2.3 Desenho de pesquisa
Definidos os conceitos (potencialmente abstratos) que desejamos operacionalizar, precisamos operacionalizá-los na forma de variáveis (dependente e independentes) mensuráveis. O conceito por si só já é uma abstração da realidade; as variáveis, portanto, são ainda mais. Mas é a partir daí que podemos efetivamente testar hipóteses.
Mais específico do caso chinês.↩︎
Popper é particularmente radical na sua definição de ciência. Para ser uma ciência, a disciplina deveria ser capaz de criar hipóteses que possam ser testadas e, em princípio, refutadas.↩︎
Pensando em contraste com a pesquisa normativa. Embora o termo “positivismo” possa assumir um caráter pejorativo (Comte e coisa e tal), a ideia é que a pesquisa quantitativa se alinha a uma perspectiva de que é possível fazer generalizações a partir de dados observados.↩︎